Fragmento
de Artigo publicado na Revista Dimensões (UFES) de número 27 (01/2012),
do qual um dos autores é nossa colega Maria Rita de Cássia Sales
Pereira.
A
finalidade é convidá-los a ampliar a visão sobre a excelente narrativa
sobre o Período Getulista que consta deste Módulo (4) cujo professor é o
caríssimo Prof. Dr. Sebastião.
Boris
Fausto (2006) narra os primeiros anos de Vargas, versando sobre sua
formação e de como se tornou parte essencial da história. Esta tarefa o
autor realiza entrelaçando com sóbria elegância elementos históricos e
políticos, os quais busca embasar teoricamente tornando a leitura mais
objetiva.
O comportamento de Vargas e que nos remete a ambiguidade dos seus pensamentos, sentimentos e atitudes. Ao
acompanhar o personagem retratado na história, se pode perceber que ali
estava o homem que gestou por mais de dezoito anos o Brasil,
contribuindo na formação da sua identidade e preparando-o para viver
significativas mudanças que o distanciavam da monarquia, do império e do
passado.
Vargas
nebuloso, fugidio, crepuscular (Villaça, 1996:101) viveu muitas
divisões internas e externas sem demonstrar desamparo ou temor pelos
extremos: cidadão do Brasil, gaúcho por excelência, filho afeiçoado que
se distanciou da família em busca dos seus objetivos. Esposo doce e
distante; pomposo e suave ditador, presidente eleito direta e
indiretamente, político autocrático, pragmático e assistencialista,
parente íntimo e distante da igreja que carregava em si a dor e o
prazer, a angustiante paz de muitas pessoas reunidas em uma enorme
solidão.
Boris
Fausto (2006) constrói uma imagem de personalidade que foi
equilibradamente cultuada, sacralizada e com a mesma intensidade
repudiada e odiada.
Teia
tecida, transformações econômicas e sociais, Vargas permitiu-se ver ora
como resistente nacionalista, ora como estadista que socorre humildes,
desvalidos. Em outros momentos surgia o homem impessoal, distante,
articulado e dissimulado. Era camaleônico. Favoreceu o trabalhador
urbano. Aquietou-se na causa do trabalhador rural. Implantou a
legislação trabalhista que fazia parte de uma estratégia maior.
O
autor trouxe para nossos dias a rememoração de um homem que comungava
na sua essência e sangue o sabor do Açores e da Espanha em um só sentir o
campo das lutas e da política entre a família paterna e materna. Um
homem capaz de buscar conciliação, talento reconhecido e que se tornou
marca na sua carreira política.
São
três os aspectos que merecem nossa atenção e que denunciam a
personalidade camaleônica de Vargas: o aspecto político representado
pela plataforma da Aliança Liberal apresentada por Vargas em Janeiro de
1930; o aspecto histórico na formação de dois fortes ministérios e o
aspecto teórico representado pelo tom fatalista utilizado na narrativa
do autor.
O
objetivo da Aliança Liberal era sensibilizar as elites regionais
dissidentes, a crescente classe média urbana e a massa trabalhadora.
Para tanto defendia a reforma do sistema político e a adoção do voto
secreto, da justiça eleitoral, das liberdades individuais clássicas e a
anistia.
As
questões sociais tratavam de medidas de proteção ao trabalho das
mulheres e dos menores; a necessidade de aplicação da lei de férias e a
extensão moderada dos direitos de aposentadoria a todos os assalariados
urbanos.
No
plano econômico financeiro propôs a defesa dos preços de outros
produtos de exportação, além do café que ocupava um lugar destacado no
cenário.
Fruto
da centralização do poder no governo provisório criou-se dois novos e
fortes Ministérios: do Trabalho, Indústria e Comércio e da Educação e
Saúde Pública, antevendo as profundas reformas estruturais que
discorreram no percurso de Vargas no poder tendo por aliada a Igreja,
ainda que só tenha casado no civil com Darcy então com 15 anos.
Afirmava-se
cristão, no entanto casou-se apenas no civil. Precisou estreitar sua
relação com a Igreja após o triunfo da revolução de 1930. A partir deste
momento não teria mais como cindir seus passos, articulações rechaçando
a Igreja, pelo contrário esta aliança tornou-se indissociável e com ela
amalgamou melhor seus objetivos,
O
tom fatalista da narrativa confundiu-se ao tom de Vargas frente a
eventos que notadamente marcaram a sua vida, tais como sua chegada a
Presidência da República de braços dados com a crise mundial iniciada em
1929; a decisão de comprar e destruir fisicamente o café por sucessivos
treze anos para garantir a redução da oferta a fim de equilibrar o
preço e por último a prisão do casal Prestes, estando Olga grávida de
sete meses quando entregue a Gestapo.
Causa
perplexidade o fato das lutas e conquistas da década de 30 se
redefinirem e em muito se assemelharem às lutas dos tempos atuais. A
humanidade no então período discutiu temas atuais, mantendo os
principais paradoxos.
Na
política tudo pode ser um fatigante processo por envolver direitos da
coletividade e deveres do indivíduo. Por isso todo processo carece de
pessoas aguerridas e de pulso forte. A figura do herói, aquele que
realiza o primeiro movimento, propagando a motivação dos seguintes até
que se chegue ao objetivo ambicionado é necessária.
Hoje
o povo degusta sabores maquinados e tracejados ainda na década de 30
por Vargas que pensou e idealizou um país diferenciado. A formação dos
Ministérios fortaleceu os movimentos de Vargas, tornando-se a prova
cabal do seu genuíno interesse pelas classes, pela melhoria das
condições intelectuais e de vida do povo.
Vários
trechos do diário dividem com o leitor as vicissitudes das classes e
conceitos totalizantes, remetendo aos rancores, invejas e desejos de
vingança bem como os fantasmas da morte citados no texto de Pierre
Ansart, (2001) vividos por Getúlio em seus vários momentos de silêncio
estratégico ou mesmo de solidão.
"Hoje o povo degusta sabores maquinados e tracejados ainda na década de 30 por Vargas que pensou e idealizou um país diferenciado."
ResponderExcluirNesse Módulo 4 fomos convidados a contextualizarmos o período Getulista.