Por Maria Rita de Cássia Sales Pereira
Uma frase no texto em muito chamou a atenção: “o problema da pobreza é de insuficiência de recursos, enquanto que o problema da desigualdade é de distribuição desses recursos” (pág 115)
No texto O Ensino Industrial
Manufatureiro do Brasil (CUNHA, Luiz Antônio. SP, Brasil Revista
Brasileira de Educação, mai-ago, número 014 pp.89-107) o qual consultei para investigar
como foi a transição do negro/a no mercado de trabalho pós Abolição, assinada
pela Princesa Isabel, faz constar que os Colégios de Fábrica, Escolas de
Artífices foram criadas para acolher os pobres, leia-se, os brancos em
condições miseráveis e órfãos (filhos dos portugueses, cujos pais não
suportaram a viagem), destinando aos mesmos saberes que pudessem ao longo das
suas vidas se auto sustentarem. A argumentação para não aceitar negros/as nas
escolas era que não possuíam qualificação mínima, tampouco condição de
freqüentar aqueles lugares..
Restava
aos negros/as libertos/as o trabalho manual e doméstico considerados desde o
Brasil Colônia de pouco valor o qual sofria forte preconceito no Brasil
Colônia. Na minha percepção não mudou em nada este entendimento. Mais
adiante (em outra questão) retomo a esta frase
Os
arranjos relativos à propriedade privada, à organização familiar e à herança,
são também considerados fortes mecanismos de reprodução das desigualdades pois
influenciam e interferem intergeracionalmente.
A
antropóloga Verena Stolcke (pág 116 apostila) assevera que “as diferenças de
gênero, raça/etnia, ao lado das de classe são indicadores significativos da
desigualdade social, interagindo e reproduzindo a opressão ao gênero feminino.
Resumindo,
há um forte “aprendizado cultural” em nossos DNA’s que nos acompanha desde a
colonização e seria pueril da nossa parte entender que estas roupagens tão bem
assimiladas se deslocarão para algum lugar desconhecido e distante sem que as
pessoas de classes diferenciadas, com condição definida, com status delineado,
vão abrir mãos e compartilharem um espaço neste grande transporte chamado vida.
É cultural não querer se misturar a não ser que seja conveniente. Nossas
crianças, jovens e adultos replicam o que vêem nos seus núcleos de crescimento
e construção da personalidade que se chamava família com papéis claros e que
colaboravam para a formação de pessoas solidárias, cooperativas e desejosas de
melhoria. No meu entendimento este conjunto coopera para produção e reprodução
de desigualdades. Quanto mais se fomenta a exclusividade (valor contemporâneo)
mais desigualdade se instalará.